quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Balanço de Inverno

Conte protagoniza o melhor arranque de temporada juventina pós-Calciocaos
Positivo e promissor. Este é o balanço realista que deve ser feito da primeira metade da temporada bianconera. Sem entrar em euforias e ambições desmedidas não me parece de todo exagerado afirmar que sim, esta Juventus é efectivamente candidata à conquista do scudetto por tudo aquilo que demonstrou até ao momento. Favorita não será certamente, esse papel parece reservado ao campeão em título, AC Milan, com a vecchia signora a poder considerar-se um outsider de peso que, ao mínimo deslize dos rossoneri, poderá assumir a liderança da competição, ainda para mais com a equipa de Allegri envolvida em força na disputa da Champions, factor que poderá equilibrar a contenda, devido ao natural desgaste sofrido caso atinja fases mais avançadas da prova. Não convém minimizar para já Udinese e Lazio que têm efectuado provas dignas de registo, como a reduzida diferença pontual para o duo da frente bem o demonstra. No entanto, é expectável que a pouca profundidade dos plantéis friulani e biancocelesti não lhes permita lutar de igual contra o poderio bianconero e rossonero, acabando muito naturalmente por se contentarem com a luta por um lugar na Liga dos Campeões, atentos certamente à recuperação pontual que Inter, Napoli e Roma possam vir a encetar. 

Centremo-nos agora na análise à Juventus. Após duas temporadas desastrosas em termos desportivos e financeiros tornou-se essencial um novo recomeço em 2011/12. Antonio Conte, antigo jogador e referência do clube nas últimas duas décadas, foi o escolhido para treinar a equipa, valor seguro ao qual se somou a imponência de um novo e moderno estádio que tem funcionado como 12º jogador no apoio inexcedível a uma squadra reformulada com várias contratações de grande qualidade que não se tardaram a afirmar como peças nucleares, casos de Pirlo, Lichtsteiner, Vidal e Vucinic, titulares indiscutíveis no novo 4*3*3 de Conte, juntando-se aos ressurgidos Buffon, Barzagli, Pepe e, em particular, ao craque Marchisio (talvez a principal figura da época juventina até ao momento). Após começo precário como central, Chiellini foi desviado para a posição de origem, lateral-esquerdo, voltando de imediato às boas prestações, abrindo espaço para a entrada no onze de Bonucci, ainda algo verde mas sem comprometer por aí além e com potencial para se afirmar como referência na posição. Matri tem sido a opção prioritária para a frente de ataque e, depois de uma sequência concretizadora, parece andar longe das redes adversárias. E assim temos aquilo que podemos chamar o onze-base de Antonio Conte, uma equipa madura, consistente, organizada, que impõe um jogo positivo e ofensivo, praticando futebol a toda a largura do terreno, valendo-se acima de tudo da enorme complementaridade de atributos técnicos e físicos do seu trio de centrocampistas (Pirlo, o cerebral; Marchisio, o versátil e Vidal, o dinâmico), sem esquecer a perseverança de Pepe, o virtuosismo de Vucinic, a força de Lichtsteiner, a garra de Chiellini, a segurança de Buffon, a solidez de Barzagli, a abnegação de Matri e a impetuosidade de Bonucci. 

É certo e sabido que é extremamente redutor falar apenas do onze titular numa equipa de futebol. São necessárias alternativas de qualidade e, felizmente, a Juventus possui algumas delas no seu plantel. Os extremos Giaccherini e Estigarribia têm correspondido sempre que chamados à acção. Quagliarella parece totalmente recuperado da grave lesão que sofreu há cerca de um ano e assume-se como a principal alternativa para a frente de ataque, sem esquecer o mito Del Piero, ainda com força e talento para ajudar a equipa. De Ceglie perdeu a titularidade na lateral-esquerda, mas é sempre opção a ter em linha de conta, tal como Pazienza para o meio-campo ou Storari para a baliza. Depois, surgem as desilusões. Krasic e Elia à cabeça. No papel seriam os titulares nas faixas ofensivas. As suas prestações explicam a razão da pouca utilização. Alguém percebeu a razão do resgate do passe de Motta? Ainda não actuou um único minuto. Os jovens Sorensen e Marrone também pouco mais jogaram. Não seria de bom tom cedê-los por empréstimo na segunda metade da temporada de forma a poderem evoluir? Outra questão pertinente é a permanência do veterano Grosso no plantel enquanto Ziegler foi cedido ao Fenerbahçe. E o que dizer então de Amauri, Iaquinta e Toni? Antes sequer de se equacionar o reforço do plantel no mercado de Janeiro já se deveriam ter resolvido estes quatro casos de jogadores excedentários que auferem ordenados bem acima da média.

Por falar em reforços torna-se prioritário dotar a equipa de mais soluções em vários sectores. Com a utilização de três centrocampistas sobra apenas Pazienza como opção efectiva e apenas para o vértice mais recuado, tornando-se assim essencial a contratação de um médio de transição que possa funcionar como alternativa a Marchisio e Vidal. Em final de contrato com a Fiorentina e com enorme disponibilidade para sair tem sido veiculado com insistência o nome de Montolivo, centrocampista versátil e titular na nazionale. Como opção o colombiano Guarin, relegado ultimamente para a condição de suplente no FC Porto, fortíssimo fisicamente e detentor de forte remate. Chiellini parece de pedra e cal na lateral esquerda, com De Ceglie como opção. Posto isto, surgem apenas Barzagli e Bonucci como elementos válidos no eixo da defesa, não sendo de estranhar as notícias que dão conta da iminente contratação de Cáceres, defesa uruguaio que já passou pela Juventus na temporada 2009/10 emprestado pelo Barcelona. A confirmar-se a contratação junto do Sevilha, seria não apenas uma alternativa a considerar para a posição de central, como também para a lateral direita. Finalmente, para a frente de ataque tem sido especulado o nome de Borriello, suplente na Roma e que terá alegadamente recusado transferir-se para a vecchia signora em Agosto de 2010. Não é um jogador que aprecie particularmente, tem algumas características interessantes, mas a confirmar-se a situação descrita na frase anterior não se deveria sequer equacionar a sua vinda para Turim. Se há Matri, Quagliarella e Del Piero, mais Vucinic que pode perfeitamente alinhar como ponta-de-lança não seria mais consentâneo passar a contar com Iaquinta, que está em final de contrato e sempre envergou a maglia bianconera com todo o profissionalismo, do que ponderar a contratação de alguém como Borriello?

Há 62 anos que a Juventus não concluía as primeiras 16 jornadas do campeonato sem qualquer derrota, o que comprova a solidez e maturidade dos comandados de Conte. No entanto, o elevado número de igualdades, 7, impede a formação
juventina de se destacar na liderança da tabela classificativa. Se formos analisar friamente em termos estatísticos reparamos que 34 pontos são pecúlio escasso para o futebol apresentado. A moral desce ainda mais quando comparamos com os desempenhos pós-Calciocaos. Ranieri conseguiu 32 e 33 pontos em 2007 e 2008 respectivamente, enquanto que Ferrara e Del Neri se ficaram pelos 30 nas temporadas seguintes. Pequenas diferenças que poderiam desmotivar de imediato os mais pessimistas. Convém ressalvar que a Juventus já actuou como visitante no Meazza perante o Inter, no Olímpico frente à Lazio e à Roma, no San Paolo contra o Napoli e no Friuli com a Udinese como oponente. Tudo isto sem conhecer o amargo sabor da derrota e sabendo de antemão que terá o fervoroso apoio dos tifosi bianconeri nas partidas da segunda volta perante as equipas mais fortes da competição. Falta aqui apenas o Milan, naquela que será a saída mais complicada da segunda metade da temporada. Jogo do ano e/ou do título? 

Sem comentários: