quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Craques Bianconeri: Michel Platini

Michel Platini nasceu a 21 de Junho de 1955 em Joeuf, pequena localidade situada no Nordeste de França, no seio de uma família de ascendência italiana.

Perfil
É recordado como um dos mais fiéis e melhores representantes do perfil de número 10 clássico, devido à sua prodigiosa técnica individual e à exímia visão de jogo. Excelente executante de bolas paradas, marcava bastante golos de livre e de grande penalidade, tendo ainda uma enorme capacidade de finalização. Verdadeiro líder dentro de campo, dono de uma personalidade fortíssima que o ajudou a construir uma carreira ímpar no futebol francês e italiano.
É considerado por muitos o melhor jogador francês de sempre. Na Juventus, é quase unanimemente reconhecido como o melhor jogador estrangeiro de sempre a envergar a maglia bianconera. Para muitos, é efectivamente considerado o melhor jogador de toda a história da Juve.

Nancy e Saint-Étienne
Começou aos 11 anos nas camadas jovens do emblema local onde se manteve até aos 17 anos, contratado pelo Nancy, clube recentemente promovido ao principal escalão do futebol francês. Faz a sua estreia na principal equipa em Maio de 1973 numa partida frente ao Nimes, antes de completar 18 anos. No final da época seguinte o clube é despromovido à segunda divisão, passagem fugaz, já que na temporada seguinte (1974/75) sagrou-se campeão da D2 muito graças à excelente perfomance de Platini, afirmando-se o patrão da equipa e apontando 17 golos. Na temporada seguinte faz parte da selecção francesa que se qualifica e actua nos Jogos Olímpicos de Montreal, caindo nos quartos de final aos pés da RDA. Regressado do Canadá, assina o seu primeiro contrato profissional pelo Nancy válido por três épocas. Nesse mesmo ano de 1976 estreia-se pela selecção principal gaulesa. O primeiro título surge no final da temporada de 1977/78 com a vitória na final da Taça de França por 1-0, frente ao Nice, com golo da sua autoria. No Verão de 1979 expira o seu contrato com o Nancy, não aceita renovar o vínculo e apesar de bastante pretendido por Inter e PSG assina pelo Saint-Étienne por três temporadas. Platini é ainda hoje o melhor marcador da história do Nancy com 127 golos.
O grande objectivo dos verdes ao contratarem Platini era o de tentarem vencer a Taça dos Campeões, troféu que lhes fugira na final de 1976 perante o Bayern Munique. Tal desiderato fica muito longe de ser alcançado e o único título alcançado durante o período de Platini é o campeonato francês de 1980/81. Em termos individuais, Platini afirma-se como jogador essencial na equipa, capitão e número 10 de categoria ímpar, apontando 83 golos em 145 partidas. No Verão de 1982 assina pela Juventus, que paga 880 milhões de liras pelo seu passe.

JUVENTUS
1982/83
Gianni Agnelli e Trapattoni, seduzidos pelo seu enorme talento, vêem em Platini o substituto ideal do irlandês Liam Brady, transferido para a Sampdoria e um dos grandes responsáveis pela conquista dos scudetti de 1981 e 1982. A adaptação a um campeonato mais competitivo e a integração num grupo onde pontificavam seis jogadores titulares da selecção italiana (Zoff, Scirea, Cabrini, Gentile, Tardelli e Rossi) acabada de se sagrar campeã do mundo, demorou algum tempo e só na segunda parte da temporada a verdadeira estrela de Platini começa a brilhar intensamente. A 6 de Março, em pleno estádio Olímpico perante a Roma, líder isolada da Serie A com 5 pontos de avanço, derrota a Juve por 1-0 a poucos minutos do fim, parecia decidido o scudetto desse ano, mas Platini com um soberbo golo de pontapé livre aos 83' e uma magnífica assistência para Brio aos 89' impede os festejos antecipados dos giallorossi. Poucos dias depois, nos quartos de final da Champions, a Juve defronta o Aston Villa, campeão em título. As formações inglesas dominam a prova vencendo consecutivamente as últimas seis edições, mas a Juve termina esse ascendente vencendo 2-1 em Birmingham (Platini melhor em campo e assistência para o golo do triunfo apontado por Boniek) e 3-1 em Turim com doppietta do gaulês! Na meia final é ultrapassado o campeão polaco, Widzew Lodz, 4-2 no total da eliminatória, com mais um golo de Platini.
Em Maio, a Juve chega à final de Atenas como grande favorita ante o Hamburgo, mas os germânicos vencem surpreendentemente 1-0 uma vecchia signora longe das exibições e potencial exibido nas eliminatórias anteriores. É, sem dúvida, uma das derrotas mais difíceis de digerir na história bianconera...
A aposta na Champions descurou o campeonato tendo a Juve que se contentar com o 2º lugar atrás da Roma. Platini sagra-se o melhor marcador da prova com 16 golos. A época é salva com a vitória na final da Taça de Itália, perante o emergente Hellas Verona. Após derrota por 2-0 em Verona, a Juve vence 3-0 na 2ª mão com dois golos decisivos de Platini.

1983/84
Apesar do falhanço da conquista da Champions e da Serie A, Platini vê-lhe reconhecida em termos individuais o excelente ano vencendo a Bola de Ouro da France Football de 1983.
A Juve arranca em força para a reconquista do scudetto vencendo na 1ª jornada o Ascoli por 7-0! A liderança bianconera nunca é posta em causa e no jogo do título perante o rival Torino em Fevereiro, a Juve leva de vencida os granata por 2-1 com dois tentos de belo efeito do inevitável Platini, aumentando a vantagem para 7 pontos! Até final os bianconeri geriram o confortável avanço, conjugando na perfeição com a participação na Taça das Taças, competição que venceriam em Basileia frente ao Porto por 2-1.
Platini sagra-se novamente capocannoniere da Serie A, desta vez num duelo épico com Zico da Udinese. No final, o francês levou a melhor com 20 golos, mais um que o brasileiro.

1984/95
É a época em que todas as fichas são apostadas para a conquista da Coppa Campioni! O campeonato é deixado para segundo plano, a Juve alcança apenas o 6º posto no ano em que o surpreendente Hellas Verona se sagra campeão. Platini sagra-se pela terceira vez consecutiva o melhor marcador, desta vez com 18 golos.
No final de 1984 Platini vence novamente a Bola de Ouro.
Em Janeiro, a Juve disputa a Supertaça Europeia com o Liverpool, campeão europeu. A vitória sorri aos bianconeri graças a dois golos de Boniek, sempre com Platini em grande destaque.

Na caminhada para a final de Bruxelas, a Juve depara-se com o Bordéus na semi-final, equipa onde alinhavam muitos dos companheiros de Platini na selecção gaulesa. Em Turim, a Juve vence por 3-0 com mais um golo de Platini e uma excelente assistência para o tento de Boniek. Na 2ª mão os franceses venceram por 2-0, valendo a inspirada actuação do guardião Tacconi a evitar males maiores.
A 29 de Maio voltam a encontrar-se Juventus e Liverpool, naquela que ficaria tristemente célebre como a tragédia de Heysel. Apesar dos 39 mortos, a grande maioria adeptos da Juve, a UEFA decide avançar com a final. A Juve vence 1-0 num penalty convertido por Platini no segundo tempo. O lance é controverso já que após lançamento longo de Platini para Boniek, o polaco é travado em falta fora da área, tendo o árbitro assinalado grande penalidade. Finalmente, a Juventus alcança o trono europeu, sendo a primeira equipa a vencer as três competições da UEFA, mas os festejos são breves em virtude da enorme desgraça ocorrida nesse final de tarde...

1985/86
É a época de renovação, fecha-se o ciclo vitorioso da squadra que dominou a Europa nos últimos 3 anos, saem Rossi, Boniek, Gentile e Tardelli. Chegam jovens promissores como Manfredonia, Mauro, Serena e Laudrup. Trap mantem-se como treinador e Platini como o líder da equipa.
No final de 1985 conquista a 3ª Bola de Ouro consecutiva, feito único na história do troféu.
O início da Série A é auspicioso com uma série recorde de 8 vitórias consecutivas lançando os bianconeri decisivamente para a conquista do 22º scudetto, o 2º de Platini. A nível individual 10 golos em 19 jogos pareciam querer levá-lo a um inédito 4º título de capocannoniere consecutivo, mas um fraco final de temporada em termos de finalização levam-no a apontar apenas mais 2 golos e a quedar-se na 3ª posição na tabela de goleadores.
Na Champions, após afastado o campeão italiano Verona nos oitavos de final (2-0 com um golo de Platini), cabe seguidamente em sorte o Barcelona. Depois de uma derrota em Camp Nou por 1-0 a Juve não consegue melhor que um empate a uma bola em Turim de nada valendo o golo de Platini.
Em Dezembro, a Juve parte rumo a Tóquio com o objectivo de conquistar o único troféu que ainda não figura no palmarés, a Taça Intercontinental. O adversário é o Argentinos Juniors e para muitos esta será a melhor partida na carreira de Platini, na qual toda a sua classe e capacidade de liderança emergem decisivamente. Em desvantagem logo no início do segundo tempo, a Juve chega ao empate pouco depois num penalty convertido por Platini a castigar derrube sobre Serena na área argentina. A partida é disputada em bom ritmo com qualquer uma das equipas a poder chegar ao golo a qualquer momento. Na sequência de um canto a defesa argentina alivia, Bonini cabeceia a bola para Platini, que se encontra entre a marca de grande penalidade e o limite da área. Le Roi pára a bola de peito e sempre sem deixar cair, toca de pé direito por cima de um defesa e dele próprio e com o pé esquerdo dispara forte e colocado marcando um golo extraordinário, o melhor da sua carreira! Para estupefacção geral o árbitro invalidou o lance, assinalando fora de jogo posicional a Serena, quando este em nada teve influência na jogada! A reacção de Platini fica na história do futebol ao deitar-se no chão com a cabeça apoiada no cotovelo esquerdo (foto em cima à esquerda) fixando incrédulo o árbitro e aplaudindo-o ironicamente em seguida...
Para piorar ainda mais a situação os argentinos colocam-se pouco depois em vantagem, muitos previram que fosse a estocada final nos bianconeri, o tempo escasseava, mas com uma garra tremenda e enorme vontade de vencer, a equipa lançou-se no ataque e aos 85' esplêndida triangulação entre Laudrup e Platini, o jovem dinamarquês contorna o guardião argentino e quase sem ângulo consegue colocar a bola no fundo das redes empatando merecidamente a partida! O título mundial é apenas decidido nos penalties cabendo a Platini apontar o penalty decisivo, tendo recebido muito justamente o troféu de man of the match.

1986-87
É o ano do adeus ao futebol profissional, o processo de renovação da Juventus prossegue com a saída de Trapattoni do comando técnico depois de 10 anos e de ter vencido tudo o que havia para vencer! Do grupo histórico permanecem apenas Scirea e Cabrini, Platini diz não sentir mais estímulo para melhorar e as estatísticas provam-no ao apontar apenas 2 golos na Série A. A Juventus fica-se pelo 2º posto no campeonato atrás do Nápoles de Maradona, naquela que pode ser considerada a época da passagem de testemunho entre os dois grandes números 10 do Calcio e do futebol mundial da década de 80. Também na Champions as coisas não correm bem com a Juve a ser afastada nas grandes penalidades pelo Real Madrid nos oitavos de final.
Era o fim do ciclo vencedor que teve Platini como expoente máximo. Assim a 17 de Maio de 1987 num jogo contra o Brescia, Le Roi, antes de completar 32 anos, despedia-se dos relvados colocando ponto final numa carreira brilhante.
Pela Juventus apontou 104 golos em 224 jogos tendo vencido dois scudetti, uma Taça de Itália, uma Taça dos Campeões, uma Taça das Taças, uma Supertaça Intercontinental e uma Supertaça Europeia. Individualmente conquistou três Bolas de Ouro e sagrou-se também por três vezes melhor marcador da Série A.


Selecção de França
Como jogador participou em três fases finais de Campeonatos do Mundo. A estreia no Argentina'78 esteve longe de ser perfeita com a França a ser eliminada logo na primeira fase pela selecção anfitriã e pela Itália. Quatro anos depois em Espanha, Platini surgiu mais experiente e bem secundado por uma excelente geração de valores do futebol gaulês. A meia final com a RFA foi épica, 3-3 após prolongamento! Nas grandes penalidades os alemães venceram deixando Platini com o prémio de consolação de melhor em campo. A França quedar-se-ia no 4º lugar após derrota com a Polónia no jogo de atribuição do 3º e 4º posto.
No Europeu de 1984 Platini sagra-se campeão europeu disputando uma prova simplesmente estratosférica como provam os 9 golos obtidos em 5 jogos! Foi inquestionavalmente a grande figura da competição, absolutamente decisivo para a conquista do título.
Dois anos depois a França chega ao México'86 com legítimas ambições de conquistar o ceptro mundial, a equipa era basicamente a mesma que se sagrara campeã europeia e tinha nas suas fileiras Platini, um dos melhores jogadores mundiais. Itália e Brasil foram eliminados pelos gauleses antes de nova meia final com a RFA. Tal como quatro anos antes os alemães foram a besta negra de Platini vencendo desta vez por claros 2-0. A França conquistaria o 3º lugar depois de vencer a Bélgica por 4-2 após prolongamento.
Disputou 72 jogos pelos bleus apontando 41 golos, sendo ainda hoje o segundo melhor marcador de sempre, só batido recentemente por Henry.
Em Novembro de 1988 assume o comando técnico da selecção de França. Em virtude da renovação que a equipa nacional estava a levar a cabo não se consegue qualificar para a fase final do Itália'90. Apesar do insucesso permanece no cargo e já com novos valores como Cantona, Papin ou Deschamps arranca uma fase de qualificação invicta rumo ao Euro'92 chegando à Suécia como um dos grandes favoritos ao triunfo final. Após empates com Suécia e Inglaterra uma surpreendente derrota com a Dinamarca afasta a França da meia final e Platini deixa o cargo.

Dirigente
Foi o presidente do Comité Organizador do Mundial'98 disputado em França. Em 2002 é eleito vice-presidente da Federação Francesa de Futebol e em Janeiro de 2007 vence as eleições para presidente da UEFA batendo Lennart Johansson (há 18 anos no cargo), graças a um discurso onde sobressaiam os valores da solidariedade e de uma maior democratização no futebol, o que levou muitos países do antigo bloco soviético a votarem nele. Reformulou os quadros competitivos das competições europeias diminuindo a diferença de representatividade entre os países mais ricos e pobres. Hoje em dia bate-se por uma UEFA mais limpa, com significativamente menos corrupção.

2 comentários:

Rodolfo Moura disse...

JP,
Simplesmente sensacional o seu 'post' sobre 'Le Roi', cobrindo, praticamente, toda a sua vida e relatando, minuciosamente, sua carreira na Itália.
Parabéns!
Assim, fico até com vergonha do 'Memorabilia' que redigi para o craque francês...
Abraços,

João Caniço disse...

Muito obrigado Rodolfo, fico bastante contente que tenhas gostado!
Como acho que Platini foi um jogador especial, realizei uma pesquisa mais minuciosa sobre a sua carreira, acabei por descobrir algumas coisas que desconhecia e assim todos os nossos leitores ficam a saber um pouco mais sobre 'Le Roi'.
Que é isso Rodolfo! Os teus post's do 'Memorabilia' são de grande qualidade, tenho aprendido bastante sobre vários craques ao passar por lá. Não me recordo de ler o 'Memorabilia' do Platini, provavelmente foi antes de eu conhecer o 'Calcio Serie A'.
Abraços