quarta-feira, 2 de abril de 2008

Craques Bianconeri: Gaetano Scirea

Gaetano Scirea foi um dos melhores líberos de sempre do futebol mundial e é o jogador mais recordado e respeitado pelos tiffosi bianconeri. Poucos dias após Del Piero ter atingido a sua marca de 552 jogos com a maglia juventina nada mais justo do que recordar o mítico Scirea.
Nasceu em Cernusco sul Naviglio, na região da Lombardia, província de Milão a 25 de Maio de 1953. Despontou nas camadas jovens da Atalanta e foi no clube de Bérgamo que se estreou na Série A com 19 anos, mais propriamente em Setembro de 1972 frente ao Cagliari. Na altura, Gaetano actuava como lateral, mas pouco depois passou a actuar na posição de líbero, ideia do seu treinador de então Giulio Corsini, que viu nele grandes potencialidades para o lugar, o tempo daria-lhe toda a razão.

Juventus
Scirea realizou duas boas temporadas ao serviço do clube bergamasco e no Verão de 1974 a Juventus, que procurava um substituto para Sandro Salvadore, viu nele o reforço ideal e contratou-o à Atalanta. Gaetano não defraudou as expectativas nele depositadas e impôs-se logo como titular absoluto na 1ª época como juventino, alinhando em 28 das 30 partidas e conquistando o seu 1º scudetto. No ano seguinte a Juve não consegue alcançar o título e Carlo Parola é substituído no Verão de 1976 no cargo de treinador por Giovanni Trapattoni, dando-se assim início a um ciclo de 10 anos com a velha raposa ao leme da signora.
Logo na 1º época da era Trap, a Juve volta a conquistar o scudetto e vence pela 1ª vez uma competição europeia, a Taça UEFA, numa final disputadíssima com os bascos do Athletic Bilbao. Scirea impunha-se cada vez mais como líder da defensiva bianconera e foi peça fulcral nesses 2 triunfos.
Em 1982 dá mais uma vez o seu inexcedível contributo para a Juve vencer o scudetto número 20 obtendo assim a segunda estrela no equipamento. Com o triunfo na Taça de Itália em 1983 a Juve participa na Taça das Taças no ano seguinte vencendo na final em Basileia o FC Porto por 2-1. Nesse mesmo ano de 1984 venceria mais um scudetto, o último troféu levantado por Furino que se retiraria passando a braçadeira de capitão para Scirea.
Na época seguinte o grande objectivo era conquistar o único troféu europeu que faltava à Juve, a Taça dos Campeões, feito que seria alcançado em Maio de 1985 na trágica final do Heysel em Bruxelas, com um golo solitário de Platini perante o Liverpool. Nessa mesma temporada a Juve já havia vencido a Supertaça Europeia tornando-se assim a primeira equipa europeia a vencer todos os troféus da UEFA, feito inédito que teve Scirea como um dos grandes protagonistas.
No final do ano de 1985 em Tóquio a Juventus disputou a Taça Intercontinental contra os Argentinos Juniors. Depois de um jogo polémico que terminou empatado a 2, onde ficou célebre a imagem de Platini deitado no chão em forma de protesto contra um grave erro de arbitragem, tudo ficou decidido nas grandes penalidades com o guarda redes Tacconi a ser decisivo na vitória da Juve. Com mais este triunfo a Juventus tornava-se a única equipa mundial a vencer todos os troféus em disputa que havia participado, feito único até aos dias de hoje. Em Maio de 1986 a Juve conquistava mais um campeonato italiano e Trap saia para o Inter depois de 10 anos de sucesso.
Scirea, então com 33 anos prolongaria a sua carreira por mais 2 épocas retirando-se no Verão de 1988. Conquistou 7 scudetti, 2 Taças de Itália, uma Taça dos Campeõs Europeus, uma Taça das Taças, uma Supertaça Europeia e uma Supertaça Intercontinental, palmarés brilhante complementado com 32 golos em 552 presenças, recorde que durou até à semana passada quando Del Piero o igualou.

Perfil
Como jogador Scirea distinguia-se pela sua extraordinária visão de jogo que lhe permitia adivinhar muitos dos lances. Conjugava muito bem as componentes técnica e táctica, saindo muitas vezes a jogar da sua defesa, passando rapidamente de líbero para médio organizador. Era um jogador correctíssimo, respeitado por adversários, apesar de jogar como defesa nunca foi expulso durante a sua longa carreira.

Nazionale
Na selecção italiana estreou-se em Dezembro de 1974 numa derrota contra a Grécia por 3-2. Foi internacional 78 vezes, participando nos Mundiais de 1978 (Argentina), 1982 (Espanha) e 1986 (México) e no Europeu de 1980 (Itália). Como destaque o título mundial de 1982, depois de uma 1ª fase periclitante da azzurra com 3 empates em outros tantos jogos a 2ª fase parecia ser quase impossível de suplantar com Argentina e Brasil no grupo. Os azzurri renasceram das cinzas e depois de baterem a Argentina de Maradona por 2-0 venceram o super favorito Brasil de Júnior, Zico, Falcão e Sócrates por 3-2 naquele que terá sido um dos jogos mais espectaculares de sempre com o hat trick de Rossi a ficar gravado a letras de ouro na história de campeonatos do mundo. Nas meias finais venceram a Polónia de Lato e Boniek vencendo na final a Alemanha Ocidental por 3-1. Scirea, tal como na Juventus foi o baluarte defensivo dessa conquista, destacando-se com o seu jogo elegante e determinado sempre repleto de fair play.
Após o fracasso no mundial do México 86, Scirea retirou-se da selecção em 1986 com 78 presenças e 2 golos com a maglia azzurra.

Tragédia
No Verão de 1988, a Juventus decide substituir Rino Marchesi, não conseguiu alcançar qualquer título nos 2 anos pós Trap, por Dino Zoff, mítico guarda redes da Juventus e capitão da selecção campeã do mundo em 1982. Scirea tinha acabado de terminar a carreira de jogador e foi convidado para ser o adjunto de Zoff, afinal era uma referência da Juve e tinha uma boa relação com o antigo colega de equipa.
No fatídico domingo de 3 de Setembro de 1989, Gaetano Scirea encontrava-se na Polónia a observar a partida do futuro adversário da Juve na Taça UEFA, o Górnik Zabrze, Scirea partiu de Cracóvia rumo a Zabrze num automóvel com um condutor local, mas não chegariam ao destino já que sofreram um acidente de viação que levaria o veículo a incendiar-se, falecendo ambos carbonizados. Scirea desaparecia com apenas 36 anos deixando a Juventus e o Calcio de luto pela brutal partida de um dos seus melhores e mais genuínos intérpretes.

Memória
Corre actualmente a petição por entre os adeptos da Juventus com o intuito de se retirar a camisola número 6, aquela que foi de Scirea durante 14 épocas. O treinador de Itália campeão do mundo em 1982, Enzo Bearzot declarou em 2005: "Se existe alguém pelo qual se deva retirar a camisola é Scirea, grandíssimo jogador e grandíssimo homem".
O topo Sul do actual estádio da Juventus, o Olímpico, foi baptizado de Curva Scirea pelos tiffosi. Gaetano Scirea poderá ser o nome do novo estádio da Juve, o actual Delle Alpi, que dentro em breve entrará em obras de remodelação.
Após a sua morte têm sido muitos os torneios e homenagens com o seu nome tendo sempre em especial consideração o fair play, ele que foi um genuíno exemplo dessa vertente no futebol.
Scirea será eternamente recordado na história da Juventus e é considerado o melhor líbero de sempre do futebol mundial juntamente com Franz Beckenbauer e Franco Baresi.

2 comentários:

Rodolfo Moura disse...

JP,
Grande Scirea, pena que eu o tenha visto jogar muito pouco...
Certamente, como colocou, um dos maiores líberos da história!
Abraços,

João Caniço disse...

Pois é Rodolfo, eu então nunca o vi jogar, só mesmo em documentários e reportagens. Fiquei impressionado com o que vi, Scirea esbanjava classe em todas as suas acções, um grande líder em campo e mais que isso um homem de conduta exemplar, dentro e fora de campo, que nunca viu um cartão vermelho durante a sua longa carreira, sintomático.
Pessoalmente penso que se devia retirar a camisola número 6, seria um tributo mais que merecido em sua memória.
Abraços