quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Juventus, excepção à regra

Num recente estudo efectuado relativamente à situação financeira dos 20 principais emblemas do continente europeu, a Juventus é um dos poucos que não apresenta dívidas, sendo mesmo o único clube italiano nessa situação.
Analisando especificamente o Calcio, sabe-se que o futebol italiano é uma actividade ligada às grandes empresas. A Juventus, a colocar a casa em ordem, é uma excepção à regra. Muitos dos maiores nomes do Calcio vivem sujeitos aos humores dos seus proprietários multimilionários, vivendo quase única e exclusivamente para o presente, raramente garantindo um futuro despreocupado.

A Juventus apresenta para esta temporada um orçamento de 186 milhões de euros não devendo um cêntimo a ninguém, apesar de ter sofrido um prejuízo de 36 M € em 2007 seguindo-se outro de 20 M € no ano passado, juntando-se enormes perdas na bolsa do maior accionista (a IFIL, da família Agnelli) e do patrocinador das camisolas (a Fiat) , 65% e 50% respectivamente. A seu favor a Juve tem o facto de ser o único grande clube italiano que é proprietário do seu estádio, ainda em fase de construção de modo a fazer subir as receitas de bilheteira. Depois de um aumento de capital de 105 M € em 2007, os bianconeri têm agora activos no valor de 95 M €.

Pelo contrário, o panorama financeiro dos seus principais rivais não é nada animador para os mesmos como se pode verificar a seguir:

O Inter apresenta um orçamento de 221 M € para uma exorbitante dívida de 418 M €. Nos últimos 4 anos o prejuízo do emblema nerazzurro ascendeu os 500 M €. Para já, a presença de Massimo Moratti (detentor de 96% das acções do clube) é um factor tranquilizante, liquidou 68 M € da dívida e está disposto a pagar mais 85 M €. Moratti é um homem generoso, nesta época, a massa salarial passou de 156 M € para 175 M €, mas não é líquido que a situação se mantenha por muito tempo visto que o valor da sua empresa petrolífera, a Saras, desceu 40% este ano.
O maior orçamento dos emblemas italianos pertence ao Milan com 293 M €. A sua dívida é de 316 M €. Em Maio de 2008, o fisco fez passar por um mau bocado o clube rossonero. Sob o ponto de vista financeiro, o futuro é incerto. As receitas de TV são cruciais para o orçamento do clube e a assistência aos jogos está a diminuir dramaticamente (menos 11 mil detentores de bilhetes-época). Berlusconi garante a necessária injecção de dinheiro vivo.
A Roma possui um orçamento de 157 M € e deve 75 M €. Após anos de gestão danosa (224 M € de dívida em 2003), o clube giallorosso apertou o cinto através da imposição de um tecto salarial. Em 2008, anunciou lucros de 20 M €, mas o valor das acções desceu 25%. A holding da família Sensi, a Italpetroli, que possui 67% do emblema romano, poderá vender o banco Unicredit, fortemente afectado pela crise.

4 comentários:

Rodolfo Moura disse...

JP,
Muito interessante essa sua análise, mostrando um quadro preocupante das finanças do 'Calcio'.
Agora, acho que o problema se repete em todos os cantos do mundo, pois as despesas dos clubes normalmente nunca são compatíveis com suas receitas...
Abraços,

João Caniço disse...

Rodolfo, limitei-me a fazer um resumo sobre um artigo que vinha no semanário 'Expresso', jornal português, de há uma semana e tal...
É verdade, não é apenas o 'Calcio' que mostra um quadro de finanças bastante preocupante. Segundo esse mesmo artigo Inglaterra apresenta as piores finanças contrapondo com uma Alemanha em melhor estado...
Vou enviar-te por e-mail o artigo completo caso queiras dar uma vista de olhos.
Abraços

Rodolfo Moura disse...

JP,
Muito obrigado! Recebi o artigo e, realmente, a análise é preciosa. Deixa-nos, enquanto amantes do 'Calcio', de cabelos em pé! Agora, está mais do que na hora do futebol deixar de ser um mundo a parte e racionalizar seus gastos. Não é possível que um jogadorzinho qualquer ganhe salários comparáveis aos dos principais executivos das grandes empresas...
Abraços,

João Caniço disse...

Rodolfo, fico contente que tenhas achado o artigo interessante e merecedor de reflexão.
Estou de pleno acordo contigo sobre a racionalização dos gastos no futebol, os clubes na sua generalidade têm vivido bastante acima das suas possibilidades, nomeadamente ao pagarem ordenados extremamente elevados em muitos casos a jogadores medianos, tal como referes e bem.
Outro problema que tem 'minado' o futebol é o trabalho dos empresários dos futebolistas, sempre desejosos de transferências milionárias dos seus representados de modo a poderem 'encher' cada vez mais os bolsos, sem grande trabalho... Imagino que te recordes que no final da década passada e no início desta qualquer jogadorzito mediano custava 5 milhões de euros ou mais! Uma tremenda barbaridade e incomportável para a maioria dos clubes...
Abraços